terça-feira, 3 de março de 2009

Gatão de meia idade: Alexandre Borges diz que perdoaria uma traição Ator analisa a vida aos 43 anos, discursa sobre casamento e traição – temas que dão o que falar em ‘Caminho das Índias’
Camilla Gabriella

Rio - Alexandre Borges transborda tranqüilidade, fala pausadamente e pontua suas frases com sorrisos, simpatia e olhos nos olhos da repórter. Não aparenta nem de longe ter nada do comportamento tenso de seu personagem, o Raul de ‘Caminho das Índias’. Na trama de Glória Perez, o seu personagem vive um triângulo amoroso com a mulher Sílvia (Debora Bloch) e a melhor amiga dela, a psicopata Yvone (Letícia Sabatella).
“Quando pinta um triângulo no relacionamento é porque alguma coisa está errada. Alguma coisa desandou ou vai desandar”, opina o ator, que afirma não ter vivenciado situação parecida em seus relacionamentos. “O Raul é um homem em crise, um homem contemporâneo com todos os momentos de dúvidas no casamento, na profissão e na vida. Mantém um relacionamento de 20 anos, tem uma filha e se esqueceu um pouco dele. Chegou uma hora que isso tudo explodiu em sua cabeça”, completa Alexandre.
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Se na ficção Raul trai a mulher por estar de saco cheio do relacionamento, na vida real Alexandre se orgulha do casamento de 15 anos com a atriz Julia Lemmertz. Os dois têm Miguel, que faz 9 anos em março, e a família completa com a enteada Luiza, de 20 anos, da primeira união de Julia.
Casal modelo
“Estou bem com minha mulher e posso dizer que nunca estive tão feliz no meu casamento, tão inteiro mesmo”, suspira ele, que dá a receita para manter um relacionamento duradouro. “Aconteceu naturalmente porque tivemos momentos maravilhosos, em que conversamos como qualquer outro casal. É saudável”, diz ele, que dispensa o rótulo de ‘casal modelo’ e que não se incomoda com os boatos de separação. “Desencano porque tenho que viver a minha vida. Quando era adolescente também queria saber do casamento do Tarcísio Meira e da Glória Menezes. É natural que o público tenha curiosidade. Mas não existe casamento modelo”.
Mesmo com tanto tempo de união, segundo Alexandre, a convivência não é tão fácil e o diálogo tem uma importância fundamental: “Tenho um casamento de 15 anos e é lógico que tiveram várias fases. Altos e baixos, momentos de prioridades no trabalho ou na vida pessoal. Você muda e o companheiro que está do seu lado precisa entender. Não significa que só porque você é casado que já está estabelecido para o resto da vida que tenha que viver de uma única maneira. Isso é uma coisa dos anos 40”, enumera.
Quem ama perdoa
Talvez seja por priorizar a conversa no relacionamento que Alexandre perdoaria uma traição. Ele, no entanto, garante ser fiel. “As pessoas têm obsessão pela fidelidade. Se a Julia chegasse para mim e falasse: ‘Olha, tive um relacionamento com outra pessoa. Foi uma coisa que aconteceu, não quero mais. Vamos continuar?’. Eu não vou falar não. Mas isso nunca aconteceu (risos). A fidelidade tem que ser natural é como a paixão”, garante ele, que gosta de ser romântico. “Tento ser romântico para que nossa relação seja romântica. Sou romântico porque gosto de ter esse clima. Não faço o romance só para agradar a Julia”.
Na contramão de alguns casais que perdem a libido com o tempo de convivência, Alexandre valoriza o sexo no relacionamento. E sorri quando questionado sobre o assunto: “O sexo é essencial. Tem uma frase do Hemingway (escritor norte-americano) que fala que para entender a mulher é difícil, porque se o homem procura muito, ele é um tarado. Se procura pouco, é um banana (risos). Dou supervalor. Tudo bem que não seja todos os dias porque, às vezes, não dá. Mas seria o ideal”, diz, empolgado.
Viagem surpresa
É com esse mesmo entusiasmo que ele lembra da primeira viagem que fez com Julia, há dois anos, depois do nascimento do filho Miguel e sem qualquer compromisso profissional. “Nos primeiros anos era difícil ter uma vida social. Em 2007, foi a nossa primeira viagem de lua-de-mel sem fazer nada para ninguém. Quinze dias curtindo. Tracei o roteiro surpresa, que incluiu Veneza e Paris, e falei para a Julia arrumar uma mala com roupas normais”, diz. Alexandre quer repetir a surpresa mais vezes e já faz planos para o futuro.
Ele, no entanto, está esperando o filho completar a maioridade para viajar pelo mundo. “Daqui a 10 anos o Miguel vai estar um homem e aí quero pegar minha mulher e viajar. Estarei com 53 anos e vou gastar minha aposentadoria com a Julia”, planeja ele, que não pretende aumentar a prole. “Pode até ser que aconteça, mas não tenho vontade. Eu me dedico muito ao Miguel e a minha enteada, Luiza, e quero vê-los crescendo”.
Aos 43 anos, recém-completados na segunda de Carnaval, ele conta que já passou por crise da meia-idade. “Daqui a pouco chego aos 50 anos. A tal da crise da meia-idade que tanto dizem não é brincadeira, não”.
Karatê aos 40
Na época, na véspera dos 40 anos, o ator teve que lidar com dois sentimentos distintos: a dor da perda de alguns entes queridos e a alegria de ver o único filho crescendo. “De repente me vi com filho pequeno tendo que dar amor. Ao mesmo tempo, pessoas que fizeram parte da minha vida indo... Me deu uma noção muito clara dessa coisa do ciclo da vida e que é natural”, desabafa. Quatro anos depois da fase dolorosa, ele se aprofundou nos livros sobre morte, filosofia e psicologia. Foi nessa mesma fase que ele começou a praticar karatê. “Comecei a buscar coisas novas”, justifica o ator, que se diz em um momento marcante na vida profissional.
Com 25 anos de carreira, ele conta que não tem mais curiosidade de experimentar outras áreas porque já fez de tudo: teatro, cinema e TV. Mas o que quer mesmo é se dedicar cada vez mais à televisão. “Cheguei num ponto de idade e de experiência que agora estou conseguindo curtir. Estou mais à vontade, mais profundo. Estou conseguindo buscar comigo mesmo uma profundidade igual a que teria fazendo uma peça ou filme”, afirma.
Para ele, o atual papel em ‘Caminho das Índias’ tem um peso enorme para os homens de sua geração. “O Raul se expressa para uma geração que é a minha, para os homens de 40”, explica ele, que não vê muitas semelhanças com Raul. “Tive mais sorte que ele. Sempre me ouvi muito. Indagando se realmente estava feliz. Os momentos de crises e dúvidas todo mundo passa, só que em graus diferentes. Tudo o que tenho hoje é fruto de uma decisão minha muito consciente das coisas que eu queria. Sou muito feliz”, conta.
O início da carreira de Alexandre não foi tão fácil. Ele morava com a família em Santos, onde nasceu, e saiu de casa aos 18 anos para tentar a profissão de ator em São Paulo. “Morei em pensão, comia uma vez por dia por causa da grana. Abri mão de muitos confortos na minha vida. Dei um prazo pra mim mesmo. Se até os 40 anos não tivesse um espaço na profissão, pelo menos um retorno para viver como ator, pagar minhas contas, iria desistir”.
Hoje, ele se aventura até pelo universo da direção. Em 2008, ele dirigiu as filmagens do curta-metragem ‘Eclipse’ para o programa ‘Essa História Dava Um Filme’, no Multishow. A produção contava a história de um astrônomo adoentado, no fim da vida, que queria ver um eclipse da lua sentado em uma varanda. O enrendo foi inspirado na vida real. “A gente vê um filho nascendo e os pais, tios e avós morrendo. Isso mexe muito comigo e me inspirou”, resume.
Outro universo que Alexandre pôde acompanhar mais de perto foi o feminino. Ele é um dos convidados para substituir Taís Araújo no ‘Superbonita’, no GNT, em março durante as férias da atriz, ao lado de Malvino Salvador, Eduardo Moscovis e Toni Garrido. “Tenho oito irmãs, fui criado pela minha mãe, tem a minha mulher, enteada. Fui jogado num programa feminino falando sobre peças vermelhas quando é legal usar calcinha vermelha, quando o batom vermelho é para seduzir. A priori não faço parte, mas com certeza tenho um lado feminino”, diz.
E se fosse mulher qual seria a primeira coisa que faria? “Não teria TPM”, brinca ele, com alguns quilinhos a menos. Mas não revela nem sob tortura o processo de emagrecimento. “Espero não fazer mais personagem gordo. Vou tentar manter como está porque depois dos quarenta para tirar peso é fogo”, diverte-se.

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